Cinema autoral, bastante solto das regras padrões, mensagens profundas e muito bem inseridas.
Quando um naufrago que já desistiu e está prestes a se matar encontra um cadáver a deriva, eis que uma bela amizade começa em uma maluca jornada por autoconhecimento, autoaceitação e críticas sociais.
Quando fiquei sabendo desse filme, logo imaginei uma daquelas viagens sem logica que ninguém entende realmente mas adora dizer que é bom. Mesmo eu adorando filmes mais malucos, um vazio sempre fica dentro de mim, pois o meu eu acomodado não gosta da incerteza de ter que trabalhar para arrumar significado em uma obra que a mensagem talvez não seja a que eu imaginei.
Te confundi? Mas essa é exatamente a intenção desses filmes, pois a vida é uma construção caótica em que você interpreta do jeito que quiser. E a função das estórias deveria ser provar significados através de pontos de vista. Mas quando isso não acontece, uma das regras mais antigas foi quebrada, gerando uma sensação de desconforto que sempre buscamos fugir no mundo real. E escute o que eu digo - ISSO É OURO!
Após ficar sabendo que diversos elementos desse filme foram trabalhados porque os cineastas simplesmente não gostam desses elementos foi o que me fez embarcar nessa viagem de cabeça. Porque são as nossas limitações que nos tornam mais criativos.
Voltando ao filme, o roteiro sabe muito bem ser maluco o suficiente sem voar muito com a estória e principalmente, as regras do mundo nunca traem o espectador, mesmo que ele odeie o filme.
Ao embarcar nessa viagem dúbia em que você tenta transformar em normal, pensando que tudo não passa apenas de alucinações de um naufrago. O filme passeia por uma viagem de autoconhecimento, malicia e ingenuidade, autoaceitação e ainda consegue fazer algumas criticas sociais. "O que eu mais gostei foi a dificuldade de se soltar para o mundo e se achar digno de conquista-lo, essa é uma prisão que muitos de nós nos colocamos sempre".
A licença poética é um pouco exagerada, mas casa completamente com o filme e nos da uma sensação de fascínio e conforto visual.
Em alguns poucos momentos o filme é mal substanciado com cenas e diálogos, como a famosa frase sobre o Jurassic Park, que serve apenas para fazer uma referencia cinéfila e agradar os cinéfilos Hardcore que gostam desse tipo de filme. Para mim fazer um filme que vai contra as regras padrões é não obedece-las, mas se você obedece outras regras você não está livre e sim escrevendo dentro de um gênero que você apenas pensa que não existe.
Como Robert Mckee disse no excelente livro STORY, todos os escritores são escritores de gênero. Até os escritores de filmes de Arte respeitam regras e estão dentro de um gênero especifico, pois atendem um publico em especifico.
A direção quer sempre nos causar aquela sensação de estranheza, através de planos criativos e uma boa paleta de cor.
Tanto a edição de som, quanto a mixagem são precisas. Ambas compõe muito bem o filme. Um bom exemplo são as grandes cenas poéticas que sofrem um corte brusco na trilha sonora que visa mostrar a paranoia do protagonista. - Nada daquilo está acontecendo.
Paul Dano e Daniel Radcliffe dão vida ao personagem. O personagem de Paul é mais complexo e é mais difícil interpretá-lo, mas é muito legal ver Daniel tentando sair da carapaça de Harry Potter, ele é um bom ator.
Um Cadáver Para Sobreviver é um filme, estranho, divertido, com boas mensagens, muito bem construído, levemente inseguro e um dos melhores do ano.
ASSISTA AO TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=icPMWXVcuXw
Dados de Viagem:
Data de Lançamento: 29 de Dezembro de 2016
Local: Ilha Deserta.
Guias de Viagem: Daniel Kwan, Daniel Scheinert
Titulo Original: Swiss Army Man.
O viajante 0, Matheus Amaral. |
David Lynch já dizia : "Se a vida é confusa os filmes também devem ser."
NÃO PERCAM ESSE FILME !
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